Menina de Vinte de Sophie Kinsella

Já comentei diversas vezes que não sou exatamente fã dos livros da Sophie Kinsella, tenho um problema sério com o seu estilo de narrativa, a falta de evolução de seus personagens (vulgo Becky fazendo as mesmas besteiras por 5 livros seguidos) e a mania que ela tem que criar cenas tão completamente absurdas para as suas personagens que eu sinto que morreria de vergonha se tivesse no lugar deles ( sim é um caso crônico de vergonha alheia, e me incomoda tanto que não consigo aproveitar a leitura). Dito isso, quando soube do lançamento de Menina de Vinte prometi a mim mesma que tentaria deixar para trás todas as criticas  passadas e que cairia de cabeça numa leitura descompromissada dessa primeira história com pitadas paranormais da autora.

Lara acabou de sair de um relacionamento. -Para tudo- Na realidade, para ela esse relacionamento ainda não acabou,  apesar de Josh já ter deixado claro ela ainda acredita que há chances dos dois voltarem. Afinal de contas, ela não tem nem ideia do motivo pelo qual ele terminou com ela.

No quesito profissional as coisas também não vão nada bem, ela recentemente largou seu emprego para abrir uma empresa de "caça-talentos" profissionais com sua amiga Nathalie. Mas a danada da amiga se mandou para umas ferias em Goa, achou um deus grego e decidiu deixar a empresa toda nas costas de Lara, apesar dela não ter a minima ideia de como fazer o trabalho sozinha.

Para piorar a situação, seus pais estão obrigando ela a ir ao enterro de uma tia-avó que não chegou a conhecer. Sadie, a tia-avó, acabou de falecer aos 105 anos, e esteve internada num asilo nos últimos 20 e tantos, sendo claramente negligenciada pela família que lhe restava. Durante o breve velório (desprovido de qualquer ternura, flores ou sentimento)  Lara começa a escutar uma voz meio estridente, perguntando onde estaria o colar.  Ela vê pela primeira vez o fantasma de sua tia vó, não aparentando a velhinha de 105 anos mas sim uma bela moça de vinte e poucos, vestida como se estivesse também na década de vinte. 

Sadie está a procura de seu colar e não vai deixar Lara em paz até que sua sobrinha o consiga de novo e ela possa descansar em paz. A partir daí é uma história, como todos os livros de Sophie, leve e divertida.

Nas primeiras cenas, principalmente na cena do velório, pensei comigo mesmo.

Hello tia Sophie, cenas de me fazer sentir vergonha alheia de novo não por favor! 

Sinceramente já estava pensando que todo o livro ia por água  a baixo, e sinceramente não entendo como alguém consegue achar isso engraçado de uma forma não-irritante de ser.

Sadie apesar de ser hilária a principio tem aquela característica natural de ser completamente irritante. Eu já estava sentindo completamente agoniada pela Lara. Perdi as contas de quantas vezes mandei  a Sadie calar a boca, tanto mentalmente quanto em voz alta (annoying right!). Mas no decorrer da história ambas foram me conquistando de uma maneira que eu já não conseguia deixar o livro de lado. Pela primeira vez consegui observar uma evolução gradual dos personagens centrais, que realmente mudaram. Principalmente Lara que a principio parecia uma barata tonta, mas que foi aos poucos com a ajuda da engraçada-atrevida-mandona-e-contagiante Sadie se tornando uma mulher audaciosa.

A transformação foi tanta, que da li  a metade final do livro de uma vez só, rindo e me divertindo com as peripécias das duas. Incluindo o tal encontro que Sadie queria ter com um executivo de sucesso que viu por acaso (o Ed). Ela simplesmente obriga Lara a convida-lo para sair, e fica sussurrando em seu ouvido para obriga-lo a aceitar. 

Essa característica da vida fantasma de Sandie é a melhor sacada  do livro. Ao ficar sussurrando - ou pra falar a verdade- gritando no ouvido de sua "vitima" ela simplesmente consegue influenciar nos pensamentos da pessoa. Como se fosse a voz da consciência, sabe? E isso gera situações impagáveis. 

O final então é realmente emocionante. Quase chorei! E olha que nem estou na TPM. 

Alias, tenho que admitir que Menina de Vinte foi definitivamente o primeiro livro da Sophie Kinsela que eu realmente adorei desde que li o primeiro Becky Bloom a tantos anos atrás. 

Ainda que  tenha visto alguns dos mesmos deslizes que me incomodaram em leituras anteriores, finalmente consegui entrar na história e me divertir. Talvez por se tratar de algo um pouco menos real, e que condiz com aquelas situações sem noção que a Sophie gosta de colocar seus personagem de vez em quando.

Fiquei com vontade de dar  a chance a outras leituras que deixei passar nos últimos anos. E provavelmente vou começar pelo amado e idolatrado O Segredo de Emma Corigam. 

Agora já são duas autoras das quais tinha ressalvas que conseguiram mudar um pouco minha opinião acerca de suas obras literárias neste ano. ( To falando da tia Cadance Bushenell que me conquistou com Os diários de Carrie) Isso só reafirma que realmente todos tem seus altos e baixos.

Resumindo, Menina de Vinte é simplesmente imperdível para as fãs de Sophie Kinsella, e com certeza merece uma chance pelas com ressalvas anteriores (como moi que paguei a língua).

Menina de Vinte
Sophie Kinsella
 Record
495 páginas
ISBN: 978-85-01-08492-7