Quando pela primeira vez ouvi falar do lançamento de Como ser Solteira da autora Liz Tuccillo, que também é co-autora do famoso Ele não está tão afim de você, eu pensei comigo: este livro está com cara de ser auto-ajuda, o que vocês sabem não é um estilo que particularmente me agrada, mas a capa brasileira era tão linda que não resisti de dar uma olhadela no primeiro capítulo para matar a curiosidade. E como vocês podem imaginar (porque afinal de contas estou aqui fazendo a resenha para vocês) Como ser solteira era um chick lit que prometia boas risadas desde os primeiros parágrafos, e o melhor fugia do lugar comum garota-solteira-conhece-garoto-passa-por-apuros-e-se-apaixona.
A história gira em torno de Julie uma assessora de impressa nova-iorquina de trinta e tantos anos, que ao se deparar com a crise de "solterice-aguda" que abala suas amigas, ao mesmo tempo tão diferentes, mas que passam pelo mesmo drama, decide largar seu emprego seguro-mas-sem-graça para fazer uma viagem ao redor do mundo tentando descobrir os mistérios de ser solteira em diversas culturas, línguas e sociedades tão diferentes, no intuito básico de entender onde é que essas mulheres lindas, atraentes e inteligentes (cada uma a sua maneira) erraram nessa busca incansável pelo amor de suas vidas.
Enquanto isso, Julie, tenta criar um vinculo e cuidar (como uma grande mãezona) de suas amigas, guiando-as e sendo guiada pelas suas loucuras incontroláveis. Serena é uma chef de mão cheia, mas suas manias religiosas e espirituais a impedem de ter um relacionamento há muitos anos, isso tudo piora quando ela decide abandonar de vez sua vida "normal" e se tornar uma "swani" uma espécie de celibatária religiosa new age. Ruby por sua vez é uma garota emotiva, e a morte de seu gato foi apenas mais uma das crises depressivas pela qual passou durante os últimos anos. Seu maior medo era se relacionar amorosamente com alguém, sabendo que no final das contas de qualquer maneira ela iria acabar sofrendo, uma hora ou outra. Alice é uma promotora bem sucedida que da noite para o dia decide passar a investir seus dias à procura de um príncipe encantado em Manhattan, e acaba virando uma namoradeira profissional, ela é a garota que sabe onde estão as melhores festas, mas também aquela que já beijou sapos de mais, e não, nenhum deles se tornou príncipe ainda. Georgia por sua vez acabou de retornar ao rol das mulheres solteiras, depois de 12 anos de casamento e com dois filhos pequenos para criar, ela literalmente se desespera ao perceber que além de ter sido trocada por uma brasileira quase 20 anos mais nova ela já não sabe nada da dura rotina de ser solteira depois dos 30.
A narrativa de Como ser Solteira se alterna entre as descobertas, muitas vezes nada animadoras de Julie em sua viagem pelo mundo (que incluem Brasil, França, Bali, China, Índia e Islândia) e o dia-a-dia problemático de suas amiga e dela mesma. As situações são extremas, daquelas de dar risadas porque você se identifica com as situações inusitadas (ou desesperadas) dessas garotas ou daquelas que vocês tem vontade de cortar o pulso, pensando que vai morrer e ser encontrada semi-devorada por um pastor alemão (citando obviamente a rainha chicklitiana Bridget Jones).
Então a leitura foi como uma montanha russa para mim, principalmente porque como comentei anteriormente, me separei a pouco mais de dois meses, e não, não foi uma separação legal, e sim daquelas que você não reconhece a pessoa que passou 5 anos ao seu lado. Como essas mulheres, já percebi que não é fácil estar de volta ao "mercado", recomeçar a vida, reconstruir com novos sonhos, mas apesar de tudo (e quando digo tudo mesmo, digo traição, ameaças, e oito meses vivendo uma grande mentira e me culpando por coisas que não eram minha culpa) sempre tentei passar pelos piores dias com pensamentos positivos, dos quais não abro mão e que aos poucos vem se mostrando totalmente os melhores caminhos que minha vida poderia tomar, afinal.
E ao final da leitura cheguei a conclusão que não era o livro certo para eu ler neste momento, provavelmente não estava preparada para uma visão cruel da realidade das grandes cidades, ou talvez ainda estivesse despreparada para rir da própria desgraça da situação, mas a verdade é que Como ser Solteira me deixou mais triste e menos otimista. E tenho certeza que o objetivo da autora era exatamente o contrario, então, não me sinto preparada para dar uma opinião critica sem relevar tudo que aconteceu na minha vida nos últimos meses. Para mim o livro foi completamente o oposto de engraçado, e fiquei com aquela sensação agridoce do inicio ao fim, mas como comentei, provavelmente não foi o livro certo para mim neste momento Quem sabe ele passara uma mensagem completamente diferente para você.
No entanto, Como ser solteira talvez tenha me servido para outros propósitos, tal como me auxiliar nessa nova empreitada, um tipo de B+A=BA do que não se deve fazer quando estiver solteira, coisas do tipo não agir sem pensar, beber é bom para afogar as magoas e/ou servir de estimulante vital, mas que se deve assegurar -SEMPRE- que você tenha uma boa amiga ao lado, nunca ficar de olho em homens casados por mais encantadores que pareçam, e que nunca-nunca se deve subjugar o timing da vida (sou daquelas que acredita que se for pra ser será), além de que viajar para a Austrália é simplesmente o pior destino para qualquer mulher solteira-à-procura.
A passagem pelo Brasil, apesar de realista, também me deixou um pouco desconfortável, principalmente por reforçar a ideia de que somos um país com sensualidade na estratosfera e de que o sexo aqui é algo banal, uma verdadeira transação monetária (como descrito no livro) ou de aventura momentânea. Como brasileira não me vi praticamente em nenhum segundo daquela narrativa, apesar de saber que possivelmente boa parte daquilo seja verdade.
Um livro que tem tudo pra ser legal, mas que no momento não foi para mim. Espero todas as suas opiniões, e quem saiba uma resenha com outro ponto de vista, talvez de alguma solteira descolada que já passou dessa fase de bipolaridade.